A Confederação Nacional do Comércio de Bens Serviços e Turismo (CNC) prevê uma retração de 10,1% no volume das vendas no varejo ampliado, em 2020. Já no varejo restrito – que exclui os ramos automotivo e de materiais de construção –, a projeção aponta um recuo de 8,7%. As estimativas têm como base os dados da Pesquisa Mensal de Comércio (PMC) de abril, divulgada nesta terça-feira (16/06) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
“Em ambos os casos, a crise sem precedentes, imposta à atividade econômica na história recente, deverá levar o setor a registrar a maior queda anual desde os anos 2000”, destaca o presidente da CNC, José Roberto Trados. A última previsão da entidade para o comércio em 2020 havia sido em fevereiro, com base nos dados de dezembro de 2019. Ainda sem os efeitos do novo coronavírus, a previsão, naquele momento, era de crescimento de 5,3% para o setor neste ano.
De acordo com a PMC, o volume de vendas no varejo recuou 16,8% em abril, em relação a março, registrando a maior retração mensal do indicador em toda a série histórica da pesquisa – iniciada em 2000 – e igualando-se ao nível observado em janeiro de 2010. Até então, a maior queda mensal do varejo havia ocorrido em março de 2003 (-2,7%). No conceito ampliado, o tombo foi ainda maior (-17,5%), em queda igualmente inédita. Todas as atividades pesquisadas registraram perdas, com destaque para os segmentos considerados não essenciais, como tecidos, vestuário e calçados (-60,6%), livros, jornais, revistas e artigos de papelaria (-43,4%) e veículos, motos, partes e peças (-36,2%).
O economista da CNC Fabio Bentes chama a atenção para o fato de que abril foi o primeiro mês considerado “cheio” desde o início da quarentena no Brasil. “Em março, as vendas já haviam recuado 2,1%, sob impacto dos decretos regionais implementados a partir da segunda quinzena daquele mês, por meio dos quais diversas medidas restritivas de combate ao novo coronavírus passaram a ser adotadas”, afirma.
Mês perdido
Os comerciantes brasileiros já podem afirmar que perderam um mês inteiro de vendas com o novo coronavírus. Segundo cálculos da CNC, em 12 semanas de pandemia (de 15/03 a 06/06), os prejuízos do setor com a crise alcançaram impressionantes R$ 200,71 bilhões. O valor é equivalente à média mensal de faturamento do varejo antes do surto de covid-19.
Desse total, o varejo não essencial foi o que mais perdeu: acumulou R$ 184,05 bilhões de prejuízo (91,7% do total). Já o varejo essencial, como supermercados, minimercados, mercearias e farmácias, apresentou perdas de R$ 16,66 bilhões (8,3% do total).
Segundo dados da consultoria Inloco, o isolamento social no Brasil vem apresentando tendência de redução nas últimas semanas. Após atingir 63% na segunda metade de março, o índice tem recuado sucessivamente, abrindo o mês de junho com uma média semanal de aproximadamente 40%. De acordo com o presidente da CNC, a abertura gradual dos estabelecimentos comerciais deverá manter a tendência de perdas menos acentuadas para o setor ao longo dos próximos meses. “Os danos ao mercado de trabalho, os graus de aversão à oferta e à demanda de crédito, o nível de confiança dos consumidores e o comportamento dos preços tenderão a cumprir, em um cenário de abertura contínua e gradual do comércio, um papel fundamental no ritmo de vendas até o fim de 2020”, ressalta Tadros.