Um dia, nessas manhãs agitadas de sábado, um senhor bem-comportado, pela roupa e humor, deixa à porta da loja de tecidos uma intimação do Estado, cobrando impostos em atraso. O senhor que cobra é um cidadão; aquele que está sendo cobrado, também. Um pertence ao Brasil Real e o outro ao Brasil Legal. Dois países ocupam o espaço do território nacional. Um é o que produz e o outro representa a burocracia que finge representar a União. Nós, empresários, empreendedores, batalhadores, enfim, o Brasil simples e real, não queremos o fim da União, mas a simplificação dessa burocracia que oprime a manifestação da nação que realmente produz.

Na fantástica fala da posse da Academia Brasileira de Letras, às portas dos anos 90, Ariano Suassuna criou um documento ao futuro: “Encontrei uma pérola de Machado de Assis: Não é desprezo pelo que é nosso, não é desdém pelo meu país. O “país real”, esse é bom, revela os melhores instintos. Mas o “país oficial”, esse é caricato e burlesco.” A resposta para isso trata-se da impressionante diferença que existe entre o Brasil oficial e o Brasil real.

Quando mergulhamos em materiais históricos, narrados por velhos personagens, temos gratas surpresas. Euclides da Cunha, quando descreve as rudezas dos Sertões, não faz como um cientista social, mas como um misto de escritor barroco, jornalista investigativo. Era a manifestação da curiosidade do homem real contra as dúvidas escolásticas dos sábios universitários do conhecimento das elites. Essa é também a diferença no saber.

Atrás de todo esforço sempre existe um burocrata que coloca em sua biografia administrativa algum resultado do crescimento da sociedade. No dia que a burocracia legal entender que nada mais é que funcionária a serviço do público, prontos a abrir portas à iniciativa privada, o capitalismo liberal irá prosperar no Brasil.

A música dá sempre recados.

Renato Russo profetizou: “Ninguém respeita a Constituição, mas todos acreditam no futuro da nação.” Que País é esse?

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