Um exercício fácil é capaz de revelar uma das principais características da arquitetura de Brasília. Mesmo no centro da cidade, rodeado por edificações, é possível olhar para o lado ou para frente e enxergar o horizonte, o imenso céu azul e a vegetação típica do Cerrado. Isso se deve ao projeto urbanístico de Lucio Costa. E também à genialidade de Oscar Niemeyer, que privilegiou em seus traços prédios belos e simples. Mas essa paisagem está ameaçada. O olhar do brasiliense hoje, principalmente nas grandes avenidas, é constantemente agredido por uma enorme poluição visual, que cresce com a proliferação de propagandas irregulares. É um sinal de descaso e um perigoso precedente para o regresso da ilegalidade.

Mais do que poluir visualmente a cidade, a publicidade irregular – fora dos padrões e locais estabelecidos pela lei – atinge uma das principais marcas de Brasília, que é o seu conjunto urbanístico, Patrimônio Cultural da Humanidade. A miscelânea de anúncios também prejudica a qualidade de vida da população, na medida em que agride a sensibilidade humana e afeta psicologicamente o indivíduo. Podemos dizer até mesmo que alguns acidentes de trânsito são influenciados ou causados por essa poluição visual. É comum presenciar motoristas distraídos e confusos com faixas e outdoors que escondem as próprias sinalizações de tráfego.

Infelizmente, o mais prejudicial dos efeitos da propaganda irregular parece ser o seu recado. Como bem demonstrou o Jornal de Brasília, em matéria publicada na semana passada, faz parecer que não existe fiscalização. Demonstra um abandono, que essa cidade é uma “terra de ninguém”. Deixa no ar uma dúvida sobre a responsabilidade social das marcas, das empresas e das pessoas que utilizam outdoors, painéis ou faixas irregulares. Por último, representa um atraso. Somos a favor das empresas de propaganda e da publicidade, mas tudo dentro da lei. Não podemos aceitar um retrocesso.

Publicado originalmente no Jornal de Brasília 12/08/2013

Brasília, 12 de agosto de 2013.

Adelmir Santana – Presidente da Fecomércio-DF, entidade que administra o Sesc, o Senac e o Instituto Fecomércio no Distrito Federal.

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