O crescimento do Terceiro Setor tem sido visto, nos últimos anos, como um dos fenômenos contemporâneos mais significativos. Fazem parte desse segmento organizações privadas, sem fins lucrativos, cuja atuação é dirigida a finalidades coletivas. É amplo o espectro das organizações do Terceiro Setor. Algumas se financiam com recursos públicos, outras com recursos privados, algumas recebem das duas fontes e há as que vivem somente das contribuições de seus associados.

O Sistema Fecomércio integra o terceiro setor, sendo mantido financeiramente, em todo Brasil, pelos empresários do comércio de bens, serviços e turismo. Os seus dirigentes, os presidentes das federações do comércio de cada estado, não são remunerados. O nosso trabalho é voluntário. Infelizmente, esse conceito do voluntariado ainda é pouco disseminado no Brasil.

De modo geral, estamos acostumados a fazer doações de roupas, alimentos e outros bens. Doações importantes, mas insuficientes. Podemos ir além e doar, também, um pouco de tempo para pessoas e instituições que necessitam de solidariedade. Há um caso interessante no livro Quem disse que não tem discussão?, do sociólogo Alberto Carlos Almeida. O autor conta que, em 1999, ficou 45 dias nos Estados Unidos, num curso com mais 17 estrangeiros. Todos foram ciceroneados por aposentados.

Ed Ivy, o cicerone do autor, tinha sido executivo de uma grande empresa de petróleo. Era pai de cinco filhos e avô de muitos netos. Ed e sua esposa viviam muito bem. Poderia gastar seu tempo com o que quisesse. E o gastava em atividades voluntárias. Uma vez por semana ia a uma escola pública ler histórias para um menino filho de mãe solteira.

Além disso, trabalhava como caixa em uma exposição de arte e ainda fazia o imposto de renda de pessoas incapazes. Como Almeida diz no livro, coisas impensáveis por aqui. “O comentário seria: veja onde ele foi parar, é um fracassado.” A participação cívica voluntária é bastante forte nos Estados Unidos, havendo alto grau de associativismo. Inclusive há bastante participação política, entendida como atividade voltada para pressionar o poder público.

Temos de pensar nisso: de nos associarmos para fazer valer nossa capacidade de pressão. Precisamos disseminar o voluntariado, incrementar o associativismo e atuar politicamente. Não me refiro à política rasteira que tanto vemos hoje. Refiro-me a fazer política em sua acepção mais ampla: a de trabalhar pelo bem comum. As organizações sociais podem não só preencher os vazios deixados pelo Estado, mas pressioná-lo a cumprir o seu papel. Podemos juntos e organizados, exigir que sejam dadas a todos os cidadãos as condições adequadas de vida. E que o Brasil se desenvolva pelos caminhos da ética, da verdadeira democracia, da responsabilidade social e do respeito aos direitos humanos.

Publicado originalmente no Jornal de Brasília – 26/3/2012

Brasília, 26 de Março de 2012

Adelmir Santana Presidente do Sistema Fecomercio-DF

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