Após recuo mensal em fevereiro (65,1%), o número de famílias com dívidas voltou a subir em março, chegando a 66,2% – o maior percentual desde o início da realização da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), em janeiro de 2010. De acordo com o levantamento da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), a alta também ocorreu na inadimplência: o percentual de famílias com dívidas ou contas em atraso passou de 24,1%, em fevereiro, para 25,3% em março. Já o total de famílias que declararam não ter condições de pagar suas contas ou dívidas em atraso e que, portanto, permaneceriam inadimplentes saltou de 9,7% (fev.) para 10,2% (mar.). Os indicadores também registraram aumento no comparativo anual.

O presidente da CNC, José Roberto Tadros, explica que o recorde da proporção de brasileiros endividados revela que as famílias vinham se beneficiando de condições mais favoráveis no mercado de crédito ao consumidor, mas alerta que esse cenário deve se reverter nos próximos meses, em função da crise provocada pelo coronavírus. “Nesse momento de incertezas sobre a economia, a injeção de liquidez que será promovida vai de encontro ao endividamento já elevado das famílias. Nesse sentido, mostra-se muito importante viabilizar prazos mais longos para os pagamentos, ou alongamentos dessas dívidas, além de mitigar o risco de crédito”, afirma.

Março registrou a segunda alta consecutiva do percentual de famílias sem condições de pagar as dívidas em dia. Em janeiro, este item chegou a recuar ao menor percentual em oito meses. A coleta dos dados desta Peic ocorreu entre 20 de fevereiro e 5 de março, anteriormente à semana em que a pandemia da covid-19 se propagou no Brasil. Mesmo assim, nota-se uma piora nos indicadores de inadimplência, o que possivelmente deverá se acirrar nos meses à frente, pois a tendência é que os consumidores encontrem mais dificuldades para pagar suas contas sem atraso.

Em relação à capacidade de pagamento das famílias, a economista da CNC responsável pela pesquisa, Izis Ferreira, chama a atenção para dois pontos: o terceiro aumento mensal consecutivo da parcela média da renda comprometida com dívidas, que chegou a 30% em março; e a proporção das famílias que se declararam muito endividadas, que aumentou de 15% em fevereiro para 15,5% em março, além de ter registrado alta de 2,5% na comparação anual. “Quase um terço da renda das famílias está comprometido com dívidas, é o maior percentual desde dezembro de 2017. Nas famílias com renda até dez salários mínimos, o comprometimento da renda cresceu de forma mais expressiva nos últimos três meses”, destaca.

Tipos de dívida
O cartão de crédito segue em primeiro lugar como o principal tipo de dívida dos brasileiros (78,4%), seguido por carnês (16,2%) e por financiamento de veículos (10,3%). “A proporção de dívidas em cartão tem diminuído nos últimos meses, enquanto as dívidas com crédito consignado, carnês e crédito pessoal têm ganhado espaço na composição do endividamento”, ressalta a economista da Confederação.

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