O principal espelho d’água de Brasília deveria refletir mais do que entulho, óleo e manchas de gasolina. Deveria espelhar beleza e qualidade de vida, como se deu desde a década de noventa. Um olhar superficial é o suficiente para perceber a má notícia: o nosso mais importante patrimônio ambiental está ameaçado. Assim como alguns bairros e cidades da capital da República, o Lago Paranoá é hoje o reflexo da falta de conservação e da ausência do Estado.

O que ocorreu na última década foi um processo acelerado de urbanização do lago. A ocupação desenfreada da orla, muitas vezes de forma irregular, aconteceu pela conivência do Poder Público, com vista grossa das autoridades. Prédios e casas particulares foram construídos quase dentro da água, contrariando o projeto urbanístico de Lúcio Costa.

Isso somente agravou problemas como o despejo de lixo e resíduos sólidos no lago. Junto com as invasões, também proliferaram as ligações clandestinas de esgoto que afluem diretamente nas águas do Paranoá.

Há áreas do lago ainda próprias para o banho, mas por quanto tempo permanecerão assim? Hoje, o lago recebe água de 189 galerias pluviais. São pontos que deixam o espelho mais exposto a danos, pois podem arrastar lixo e esgoto para suas águas. Outras ameaças vêm do trânsito de embarcações. O aumento da população e a ascensão econômica da classe média fizeram o número de barcos alcançar dígitos inimagináveis. Brasília passou a ter a terceira frota náutica do País, mesmo sem possuir sequer um píer ou uma marina pública.

A responsabilidade por monitorar o lago é da Marinha, que tem apenas duas equipes para o trabalho, cada uma com quatro militares. É humanamente impossível abordar os motoristas com eficácia.

Os recentes acidentes de lanchas são uma consequência desse aumento de embarcações e da irresponsabilidade de seus condutores, que levam para o lago a falta de educação e o comportamento agressivo exibidos no trânsito. Resta mais um agravante: até pouco tempo a concessão da habilitação para conduzir um barco era feita indiscriminadamente, sem ao menos exigir uma prova prática do candidato.

Pior ainda quando os pilotos resolvem acelerar suas lanchas com bebidas alcoolicas na mão e outras distrações no interior. Sobra apenas um rastro de poluição e violência. A boa notícia é que ainda há tempo de mudar essa realidade para melhor. O governo deve cuidar do lago com foco em questões realmente significativas.

É necessário que o Poder Público defenda a exploração regular da orla, fiscalize a frota náutica, combata a poluição e incentive a preservação do meio ambiente e a prática de esportes, com promoção do turismo e do lazer responsável. O Lago Paranoá precisa de ajuda. Antes de tudo é uma fonte de vida para a população do Distrito Federal.

Publicado originalmente no Jornal de Brasília 13/08/2012

Brasília, 13 de agosto de 2012

Adelmir Santana Presidente do Sistema Fecomercio-DF

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