Brasília acordou na manhã de hoje com novas ocupações urbanas no horizonte, ônibus quebrados nas ruas e alguns carros a mais em seu já engarrafado trânsito. Ao cair da noite, certamente, a capital da República dormirá temerosa pela falta de leito nos hospitais, preocupada com um possível novo sequestro relâmpago e assustada diante do avanço do tráfico de drogas. Mas o que é preciso para mudar essa realidade? Não existem soluções prontas, tampouco medidas paliativas capazes de resolver esses problemas. Antes de tudo, é preciso cuidar do nosso patrimônio e repensar a cidade.

Os governos que se sucederam na condução do Distrito Federal estiveram quase sempre envoltos com a necessidade de resolver questões pontuais. As sucessivas crises políticas contribuíram para isso. Diversos planos foram elaborados como foco nas próximas eleições e não no futuro da capital. Poucos conseguiram deixar um legado de programas capazes de garantir a preservação da qualidade de vida do brasiliense. Infelizmente, não podemos mais dizer que temos uma cidade sem engarrafamentos, com pouca violência e onde a educação, o transporte e a saúde pública funcionam com qualidade.

A sensação agora é a de morar numa cidade nova que não se cuidou e envelheceu rapidamente. Brasília passou a sofrer das muitas mazelas que atormentam as grandes metrópoles. É claro que isso também foi reflexo do crescimento urbano. O Distrito Federal tem hoje quase 3 milhões de habitantes. A economia também se transformou. Temos um comércio pujante e um setor de serviços consolidado, assim como uma indústria mais avançada. É lógico que isso é positivo, mas até o desenvolvimento econômico precisa ser sustentável, com geração contínua de emprego e renda.

A falta de ordenamento é outro problema sério que atinge a nossa cidade em diversas frentes, tanto na área territorial quanto ambiental. Todos esses fatores justificam um planejamento que aponte diretrizes para as próximas décadas e um profundo debate sobre os desafios que Brasília enfrentará nos anos a seguir.

Essa discussão, eu acredito, não deve depender de governo ou de partido político. Ela pode ser travada pela sociedade em diversos fóruns, como associações de bairro ou entidades de classe, e pautada pelo cidadão, inclusive nas redes sociais.

A Federação do Comércio do DF, motivada por esse espírito, pretende reunir a partir de setembro, em uma série de encontros, pensadores, especialistas e outros defensores da cidade para refletir sobre o futuro de Brasília. Daremos voz aqueles que se preocupam com a capital. O importante é que sejam elaboradas soluções para balizar políticas estruturais e modelos de gestão eficientes. Em minha opinião, ninguém tem mais legitimidade do que o próprio brasiliense para colocar isso no papel. E esse trabalho pode começar hoje, de olho no amanhã.

Publicado originalmente no Jornal de Brasília 3/09/2012,

Brasília, 3 de Setembro de 2012

Adelmir Santana Presidente do Sistema Fecomercio-DF

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