Nos últimos meses, a sociedade brasiliense tem se queixado do grave estágio de abandono em que se encontra o Distrito Federal. Essa crítica é verdadeira e motivada por diversas razões. A primeira delas, mais aparente, é o descuido com a cidade. No meu último artigo, citei como exemplo dessa questão as obras inacabadas, a falta de conservação das vias públicas e as constantes greves de servidores, que afetam diretamente a manutenção de serviços básicos considerados essenciais para toda a população e para a conservação de Brasília.

A segunda razão dessa sensação de abandono decorre do ressurgimento de antigos problemas. Males dos quais o cidadão gostaria de se livrar. Um deles é o crescimento da informalidade. O comércio ambulante tem crescido de forma assustadora na capital federal, a ponto de os camelôs terem retornado ao Setor Comercial Sul e ao entorno dos shoppings. Os ambulantes invadiram avenidas e quadras residenciais do DF. Perdem os empresários, que pagam uma carga tributária altíssima para se manterem na legalidade, e a população, que depende dos empregos gerados pelos setores de comércio e serviços.

A lista cresce quando falamos das mortes no trânsito, do transporte pirata e das quedas de luz. O brasiliense costumava se orgulhar de viver numa cidade civilizada, onde havia respeito ao pedestre e aos limites de velocidade. A educação nas pistas cedeu lugar aos radares eletrônicos.

As vans piratas voltaram a colocar em risco os usuários do sistema de transporte e os constantes apagões de energia se tornaram ainda mais constantes. Em 2011, cresceram em 31% as queixas contra a Companhia Energética de Brasília (CEB).

Por tudo isso, os brasilienses têm visto uma cidade abandonada. A terceira razão que explica essa realidade é a falta de solução para questões estruturais. Muito se falou sobre os problemas nas áreas de Saúde, Segurança e Educação. Mas o que foi feito concretamente? Nada de estrutural saiu do papel e ninguém aguenta mais promessas não cumpridas. Uma demonstração disso é que na última pesquisa de opinião feita em Brasília, 64% dos entrevistados consideraram o governo ruim ou péssimo. Não é pouca coisa. Essa situação nos mostra uma necessidade urgente de profissionalização do serviço público.

Grande parte dos problemas reflete uma má administração. Nenhum projeto resiste a tantas trocas de secretários, administradores e gerentes. O governo do Distrito Federal trocou, pelo menos, cinco secretários em menos de um ano. E qual a causa disso? Em parte a causa está num modelo que privilegia o preenchimento de cargos públicos com a contratação de “c o m p a n h e i ro s “, em vez da valorização de servidores de carreira ou técnicos e especialistas. Neste caso, precisamos reformar a política nacional. Por outro lado, os problemas também requerem uma postura mais atuante por parte do governador na intenção de solucioná-los.

*Publicado originalmente no Jornal de Brasília – 23/01/2012

Brasília, 23 de Janeiro de 2012

Adelmir Santana Presidente do Sistema Fecomercio-DF

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