Hoje, foi um boneco inflável. A réplica do tatu-bola, mascote da Copa do Mundo de 2014, teve a sua estrutura destruída a facadas em plena Esplanada dos Ministérios, coração da capital federal. Ontem, os vândalos depredaram o Memorial JK, o Museu do Índio e o Museu Histórico de Brasília, para citar apenas alguns dos monumentos que já tiveram as suas paredes pichadas. Qual será a agressão de amanhã?

Anualmente, o governo local gasta milhares de reais para limpar bens públicos pichados, como muros, escolas, pontes, viadutos, passagens subterrâneas e paradas de ônibus. Na telefonia, estima-se que todos os meses mais de 120 orelhões são destruídos. No comércio, a situação não é diferente. Um giro pela W3 Sul, pelo Setor Bancário ou pelo centro de qualquer região administrativa do Distrito Federal é suficiente para constatar a ação criminosa dos vândalos.

Começa assim a banalização da violência, quando passamos a aceitar atos de menor poder ofensivo. A situação se torna crítica quando nos tornamos indiferentes a qualquer tipo de agressão. Parece que quanto mais convivemos com a violência, mais ela se torna comum, a ponto de não surpreender mais ninguém. Na verdade, trata-se de uma crise de valores. Por isso, é bom que se reafirme: o vandalismo não é um protesto. É um ato criminoso, expressão de raiva e ódio, que merece ser punido, de acordo com a lei.

Nas últimas décadas, em um fenômeno de velocidade assustadora, o vandalismo tem se confundido com a violência indiscriminada. Jovens de diversas classes sociais passaram a achar normal e, por incrível que pareça, até divertido, agredir seres humanos. Pessoas em situação de vulnerabilidade, como moradores de rua, garotas de pro-grama, deficientes, idosos, gays e integrantes de outras minorias são atacados constantemente em todas as cidades brasileiras.

Ainda me lembro com clareza do crime bárbaro cometido contra o índio pataxó Galdino Jesus dos Santos, queimado em uma parada de ônibus de Brasília, e a justificativa desprezível dada pelos seus agressores. “Que iríamos dar um susto nele, era só uma brincadeira”, disseram os criminosos.

Esse tipo de comportamento doente, como se observa, não é um problema de ricos ou pobres. Essa violência decorre da impunidade e da mais profunda falta de educação, no sentido amplo do termo.

Viver em sociedade requer respeito ao próximo, às diferenças e, sobretudo, à vida. É preciso educar as crianças ainda cedo para que aprendam a ser solidárias e preservem esses valores. Quanto a nós, devemos cobrar das autoridades punição exemplar para aqueles que destroem patrimônio público ou privado e para aqueles que co-metem agressões de qualquer natureza. Quando a vida perde o sentido, resta muito pouco ou quase nada a se fazer.

Publicado originalmente no Jornal de Brasília 05/10/2012,

Brasília, 15 de outubro de 2012

Adelmir Santana Presidente do Sistema Fecomercio-DF

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