O cenário da cultura no Distrito Federal acompanha uma tendência negativa vista em quase todo o país: a maior parte dos eventos e das salas culturais estão concentrados no centro. Os moradores das diversas regiões administrativas permanecem carentes de opções de entretenimento. Para se ter uma ideia, o Governo do DF dispõe de apenas 12 espaços culturais, entre teatros, cinemas, museus e bibliotecas. Desses, apenas dois estão fora do Plano Piloto. Número que certamente não acompanhou o crescimento estrondoso observado em nossa cidade. Apesar de Brasília ser palco de grandes shows e apresentações artísticas, sendo destino de muitas atrações internacionais, ainda enxergo a maior parte da população do Distrito Federal longe das plateias. Os preços exorbitantes, as grandes distâncias e os engarrafamentos frequentes são alguns dos empecilhos que afastam os brasilienses do circuito cultural do Plano Piloto, o que me faz refletir sobre a ausência de ações do governo e da sociedade civil para democratizar a cultura. À frente do Conselho Regional do Serviço Social do Comércio (Sesc) do Distrito Federal, tenho a oportunidade de ouvir interessantes relatos sobre a presença de moradores do Gama e de Ceilândia em nossas atividades culturais. Nessas cidades, o Sesc construiu dois grandes teatros nos últimos anos. Em 2011, os produtores de um evento organizado pela instituição, batizado de Mês da Fotografia, espantaram-se em ver que 400 pessoas lotaram o teatro do Sesc Ceilândia para participar de uma oficina com fotógrafos. Foi gratificante saber que, para os idealizadores, aquele número era inédito, nunca antes atingido. Mais surpreendente foi perceber que no Plano Piloto, onde a escolaridade e o poder aquisitivo são maiores, o projeto não conseguiu reunir público tão expressivo nas oficinas de fotografia. Em março deste ano, um dos representantes da música popular brasileira, Luiz Melodia, também se surpreendeu ao ver a pontualidade e o comparecimento dos fãs de Ceilândia. Os moradores dessa região administrativa ocuparam todas as cadeiras postas no local, inclusive as adicionais. É prova de que, se houver investimento, a resposta das pessoas onde há potenciais consumidores de cultura será imediata. A ascensão das classes C e D, fruto da boa fase que vivemos em nossa economia, também contribuiu para aumentar o interesse da população por novas opções de lazer. O fato deve ser levado em conta pelos produtores e pelo governo, a fim de gerar incentivo à cultura. Além da construção de mais espaços culturais fora do Plano Piloto, é necessário colocar em prática uma ação para reduzir os preços dos ingressos. Se condicionarmos o acesso aos espetáculos aos preços cobrados nas bilheterias do Teatro Nacional, por exemplo, a cultura continuará restrita à pequena parcela da população que detém alto poder aquisitivo. Por isso, sinto-me orgulhoso quando vejo políticas de descentralização da cultura. As ações do Sesc que visam ao desenvolvimento intelectual, ao desenvolvimento social e à formação de plateias têm obtido resultados muito positivos. Nos últimos três anos, a instituição investiu mais de R$ 12 milhões em cultura. Somente em 2011, foram contabilizados 2,44 milhões de atendimentos nessa área. Os projetos contemplam música, teatro, cinema, dança, literatura e fotografia, entre outros. Os teatros do Sesc estão em Taguatinga Norte, Ceilândia, Gama, Setor Comercial Sul, 913 Sul e 504 Sul. É muito bom perceber que todos, sem exceção, foram abraçados por suas comunidades. Os relatos de pichação e vandalismo contra esses centros culturais são raríssimos. A política da instituição é manter as salas abertas para a sociedade e investir em eventos de qualidade, gratuitos ou a preços populares. Aliás, outra ação que tem sido muito eficiente para o incentivo à cultura diz respeito ao uso dessas salas. Quando os projetos não possuem nenhum tipo de fomento, o Sesc não cobra pelo aluguel dos espaços. Os produtores locais podem realizar espetáculos sem arcar com os custos da estrutura. As casas estão sempre lotadas. A população mostra que tem sede e fome de cultura. Isso só reforça a necessidade de descentralizar as atividades culturais. Não podemos ignorar a crescente demanda das cidades do Distrito Federal, onde o acesso à informação tem sido cada vez mais evidente. Acredito que um trabalho sério contra a elitização da cultura é um dos caminhos mais eficientes para nos desenvolvermos social e intelectualmente. E de quebra, movimentar nossa economia com a geração de emprego e renda.

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