Alguns setores do governo insistem em dizer que as manifestações de rua no Brasil têm como causa o próprio sucesso do País. A lógica é a seguinte: os protestos resultam dos avanços econômicos e sociais, “sem precedentes”, testemunhados na última década. Jovens que antes não tinham nada, agora têm e querem mais. Essa é uma forma de ver as coisas. Outra maneira, mais realista, de interpretar o presente é tentar ouvir o que os manifestantes têm a dizer. A grande massa de inconformados grita que “o gigante acordou”, repudia os gastos considerados desnecessários em detrimento de investimentos em áreas prioritárias e não se sente representada por políticos corruptos.
Em outras palavras, isso demonstra que o Brasil é vítima do seu próprio atraso. O que tem prejudicado o desenvolvimento brasileiro, basicamente, é a corrupção generalizada, a ineficiência do Estado na oferta de serviços básicos, a burocracia extrema, a elevada carga tributária, a impunidade e um sistema político e eleitoral que privilegia a manutenção das oligarquias em vez de permitir uma renovação no Poder. A sociedade não suporta mais essa realidade e, por uma conjunção de fatores, entre eles a facilidade de comunicação nas redes sociais e a revolta com a lentidão do governo, está disposta a protestar. Arriscaria dizer que essa pode ser uma das causas das manifestações.
Quem paga seus impostos em dia quer serviços públicos de qualidade. Mas parece faltar tudo neste País. Faltam médicos, professores, policiais. É de se questionar para onde vai o dinheiro arrecadado. A impressão é a de que muitos estão pagando a conta de poucos. Os avanços na consolidação da democracia são inegáveis e precisam ser defendidos, mas o Brasil ainda requer institui- ções mais transparentes e céleres em suas respostas. Não se trata de extinguir partidos, mas de uma reforma política que amplie a participação popular nas decisões tomadas diariamente. O povo quer ser ouvido.
Publicado originalmente no Jornal de Brasília 19/08/2013
Brasília, 19 de agosto de 2013.
Adelmir Santana – Presidente da Fecomércio-DF, entidade que administra o Sesc, o Senac e o Instituto Fecomércio no Distrito Federal.