Pouco importa se é manhã, tarde ou noite. Todos os dias, dezenas de viciados se amontoam pelos becos do centro de Brasília para fumar crack.Vejo essa cena do prédio da Fecomércio, localizado na quadra seis do Setor Comercial Sul. Diante dos olhos de transeuntes apressados, os usuá- rios vagam pelas ruas em busca de meios para consumir a droga. Não existe saúde física ou mental. Os mais dependentes revelam sintomas de depressão, delírios e pânico.
Esse efeito destrutivo do crack corrói também a cidade, seus moradores e equipamentos urbanos. Nas quadras do Setor Comercial o que se observa são buracos, calçadas quebradas e praças imundas. Os trabalhadores e empresários se sentem impotentes. Já chamamos a polícia, procuramos as autoridades e apoiamos projetos sociais. Foi em vão. Os viciados sempre retornam. As latinhas retorcidas jogadas na rua, usadas como cachimbos, evidenciam por onde a droga passou. É o rastro da violência.
A escalada do crack impulsionou o crescimento da criminalidade no DF. Aumentaram os roubos, sequestros e homicídios. No início deste ano, um levantamento do IML mostrou que as drogas estão diretamente relacionadas aos assassinatos. Em 2010, 53% dos brasilienses mortos a tiros usaram substâncias ilícitas produzidas a partir da cocaí- na. É a prova da matança promovida por uma droga que avançou sobre a classe média e agora está presente em todos os municípios brasileiros.
Quem disser que existe uma saída simples está enganado. Mas é possí- vel, sim, combater essemal. Primeiro, é preciso enfrentar o debate. A internação compulsória dos usuários, anunciada pelo prefeito do Rio, Eduardo Paes, ao menos deu visibilidade à discussão. O Estado não pode abandonar os viciados. Outras sugestões merecem nossa avaliação. É necessário intensificar o combate aos laboratórios de crack e o governo deve concentrar esforços em programas de prevenção no ensino. Só assim as crianças crescerão vacinadas contra as drogas. O desafio é enorme.
Publicado originalmente no Jornal de Brasília 29/10/2012,
Brasília, 29 de outubro de 2012
Adelmir Santana Presidente do Sistema Fecomercio-DF